segunda-feira, 31 de outubro de 2011

pH < 4

Era novo e isso fazia parte do prazer. Era um pacote filantrópico, a soma de sabores, peles, olhos, fomes, luzes e descobertas. Tudo por conta da casa. Tudo na consistência ideal a partir da união coloidal das moléculas coloridas de sabor artificial idêntico ao natural. Tudo por conta da vontade. “Tudo” diz muita coisa dessa noite, até quem não dizia nada até então, definiu no meio de todas as luzes a incrível sensação de não saber de nada, nada era simplesmente o que sempre foi, tudo tinha se misturado, se ondulado até formar uma matéria qualquer que ficava além do palpável. Pouco menos de 20 mentes, acredito. 1 milhão de vozes saindo de cada uma delas e se degladiando em outra dimensão, não faço idéia de qual foi a matemática dessa noite. Tudo parecia comestível, imaginável e permitido. “Tudo” diz muita coisa dessa noite. Paraísos de libra e águas de câncer se encontravam enquanto diagnósticos astrais eram oferecidos em todos os ambientes daquele fantástico espaço ao mesmo tempo. Era uma mistura de medo com fascinação, de magia negra com o poder do megazord. Eram pouco menos de 20 mentes, 18 mentes e meia, acredito, sendo investigadas e sem conseguir se esconder da exposição. 18 mentes e meia servindo de espetáculo enquanto o oráculo de botas se alimentava de cada gesto aquariano, orientava a insegurança libriana e abria as portas pra água de câncer pra quem quisesse beber. As pupilas precisaram dilatar pra tentar entender tudo o que o mundo estava virando e também pra conseguir acompanhar os passos daquele rap. No meio disso, um criador de memórias registrava cada pedaço de parede, cada cinza no chão e cada partícula debaixo da língua porque ele sabia que era bom. Ao que parece, ninguém tinha se preparado pra tudo aquilo, pra manter os olhos tão abertos quanto escondidos, pra ser o que quiser e arcar com as consequências de cada ser. Risos frenéticos flash após flash, a atenção básica ao que era bonito e irresistível estava distorcida. Tudo parecia muito mais que antes, qualquer coisa era o que seu olhar mandasse e sua boca comesse. Todos pareciam em busca de algo que flutuava e pareciam flutuar também, era difícil se prender a realidade. Não se sabe como aquelas mentes sobreviveram aquela noite mas o tempo tem passado muito devagar desde então. O universo mudou de cor e agora é anacrônico. Preparados ou não, esses dezoito cérebros e meio, continuam vagando por aí, tentando assimilar cada minuto que experimentaram na acidolândia, tentando encontrar uma matéria no meio do espaço e aquele mesmo espaço pra fazer tudo outra vez. Tudo o que eu consigo dizer é que. Tudo. Aqueles dezoito cérebros e meio foram muito bem selecionados.

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