você, Chico

ombro amigo é ombro abrigo
é a casa aconchego pra colar qualquer pedaço partido
é ombro-lugar de se encostar
é (p)arte do corpo pra se partilhar
é ombro-circo de riso e de choro

é o ombro do Chico
onde arregalo os ouvidos e me dano a dançar.

caso

caminho grudada no vento
desasada.

sou cheia de tudo o que já vi
mas meu corpo ainda vira abrigo
casa, telhado, proteção, toque
pra quando quiser vir morar.

sou toda lugar
pé, cabeça e umbigo
e meu corpo ainda não tem asa
casa comigo?

passos

Eu acredito nos passos que a gente dá por aí, sem saber no que vai dar. Acredito na vida que chega aqui, com os olhos fechados de certeza, sabendo que vai dar em sorriso. Que dê em um qualquer, sendo junto, somos tudo. Acredito no vento, no mar, no tempo e até na estrada que separa, mas é a ponte que me leva ao mar, ao mergulho mais fundo e ao toque mais raso.

Acredito no vento que vem me beijar e sobre tudo no nó que atamos e no nosso que temos, no laço que ganhei e que me enfeita os olhos mesmo quando eles estão chovendo.

Meu olhar é brilho, mesmo com água salgada escorrendo.

Fragmentos de olhar

É tudo o que tenho já que o toque decidiu voar
voou alto, menino-passarinho
pousou, pesou, passou
e me deixou mar nos olhos

mergulho no que transborda

cai, cai aqui.

Arde

Uma parte ardendo, outra olhando
brilho nos olhos, amargo nas mãos
sonho ardido ardido ardido
pedaço partido partido partido

Metade aqui e metade buscando
voando longe
no colo-balanço pousando

Sono que rola, vira, mexe, chora, e mais que tudo
arde
ardeu no partiu
ardeu no dormiu

É parte cheia do que completou ao olhar
olhos sorrindo na pele nua
sua, nossa
minha
eterno seja o tempo que foi
eterno beija o vento que vem

Coloco tudo na sacola e viro passarinho
passageira, pronta pra arder junto.